Plano de Aula

EXPERIÊNCIAS DE COLONIZAÇÃO: BRASIL E ÁFRICA

Colônia – Trabalho e açúcar | Documentário | De Beca Furtado | 2023 | 26 min | RJ
20/08/2025
Ensino Médio
Ciências Humanas, Geografia, História, Sociologia
Luisa Müller | Equipe CurtaENEM
Acesse a ficha do filme



JUSTIFICATIVA PEDAGÓGICA


Os estudos sobre o chamado “Brasil Colonial” são fundamentais para a compreensão sócio econômica do país, já que a partir do século XVI é que se pode perceber a confluência das matrizes europeia, nativa e africana. Ademais, estudar este período se torna primordial para a compreensão crítica de mazelas que atingem o país até hoje como o racismo, concentração fundiária, divisão internacional do trabalho e mandonismo. No contexto do ENEM, esses temas se relacionam com História, Geografia, Sociologia e Linguagens, sendo relevante para interpretação de textos historiográficos e até mesmo fontes primárias.


COMPETÊNCIAS


Área de Ciências Humanas e Suas Tecnologias



  • Analisar os principais aspectos políticos, econômicos e sociais da colonização portuguesa no Brasil e suas implicações históricas.

  • Compreender a estrutura do sistema colonial e as relações de poder entre colonizadores, indígenas e africanos escravizados

  • Identificar e discutir formas de resistência de indígenas e negros escravizados, reconhecendo sua relevância histórica 

  • Debater criticamente os impactos da escravidão e da exploração colonial na formação da sociedade brasileira atual 

  • Relacionar as práticas coloniais às desigualdades sociais contemporâneas no Brasil, promovendo reflexões éticas e cidadãs 


EIXO TEMÁTICO 


Colonização, Escravidão


TEMA


Chegada dos africanos, Engenhos de cana-de-açúcar, Dominação e resistência africana, Formação e desenvolvimento da colônia




O trabalho com o processo de colonização do Brasil em conexão com a África para o Ensino Médio e o ENEM tem como objetivos:  




  • Identificar e compreender o conceito de colonialismo e situá-lo contextualmente na dinâmica sócio-econômica dos agentes europeus modernos

  • Refletir sobre os impactos da colonização no território brasileiro em suas variadas regiões em conexão com a dinâmica dos povos africanos

  • Problematizar a noção de pacto colonial e exclusivo metropolitano, percebendo de que forma o dito Brasil Colonial não configurava uma sociedade engessada e uma economia meramente voltada ao mercado externo

  • Relacionar esses conceitos com questões do ENEM, desenvolvendo leitura crítica e argumentação fundamentada.



AULA 01 (50 minutos) – Introdução ao tema e exibição do filme




  1. Dinâmica inicial (20 min): Exposição da noção de “Ciclo do Açúcar” contextualizando o século XVII na relação entre Europa-África-América



Durante o século XVII, a colonização portuguesa nas Américas consolidou-se em torno de um modelo econômico baseado na produção e exportação de açúcar, produto de grande valor no mercado europeu e altamente demandado pelas elites urbanas do continente. Esse contexto está inserido dentro do sistema mercantilista europeu que via nas colônias uma extensão produtiva voltada à geração de riquezas para as metrópoles. No caso do Brasil, esse processo tomou forma no chamado “Ciclo do Açúcar”, especialmente nas capitanias do Nordeste (com destaque para Pernambuco e Bahia) onde se estabeleceram complexos produtivos conhecidos como engenhos. A produção açucareira integrava-se a uma lógica tripartite que conectava Europa, África e América: os capitais e técnicas vinham da Europa, os escravizados da África e os recursos naturais e mão de obra eram explorados na América, gerando um sistema intercontinental de exploração e dominação.



Esse modelo produtivo demandava o uso intensivo de mão de obra escravizada, inicialmente indígena e, posteriormente, predominantemente africana. A colonização açucareira brasileira não pode ser compreendida sem a articulação com o tráfico transatlântico de escravos, responsável por transportar milhões de africanos capturados para trabalhar nos canaviais e nos engenhos em condições desumanas. A estrutura social que emergiu desse ciclo foi profundamente desigual, assentada sobre a Casa-grande e a Senzala como espaços simbólicos da ordem colonial, marcados por relações de poder, violência e hierarquia. O objetivo central dessa introdução é permitir que o professor apresente aos estudantes o Ciclo do Açúcar não apenas como uma etapa econômica, mas como um processo estruturante da sociedade colonial, no qual se entrelaçam interesses europeus, a violência escravista africana e a exploração territorial americana, formando um dos pilares do sistema colonial português.



Projeção de imagens no projetor:




  • Um mapa triangular (Europa–África–América) destacando o comércio transatlântico.

  • Imagens de engenhos, mapas antigos e obras de Debret ou Rugendas que retratam o período.




  1. Exibição do filme (25 min): Os alunos devem assistir ao filme anotando palavras-chave ou expressões que considerem importantes para entender o funcionamento da sociedade açucareira. Exemplos: “engenho”, “trabalho forçado”, “violência”, “cultura africana”, “resistência”.



AULA 02 (50 minutos) – Analisando trechos específicos do filme



Timecode 01: (5:54 a 8:14)



O filme apresenta a atividade açucareira tendo como base fundamental a mão-de-obra escravizada a partir da lógica de plantation. Apesar da convivência entre trabalhadores negros e nativos, estes primeiros irão predominar largamente, em razão da alta lucratividade do tráfico negreiro. O conceito de plantation, portanto, se origina em grande medida a partir da experiência açucareira no Brasil, principalmente após as invasões holandesas na capitania de Pernambuco, já que estes colonizadores esquematizam de forma muito mais organizada e tecnológica a lavoura de açúcar no século XVII.  



TEMA PARA O TRECHO



"O sistema de plantation e a escravidão no ciclo de açúcar nas américas"



As falas das historiadoras Hebe Mattos e Ynaê Lopes nos ajudam a compreender a dinâmica produtiva do século XVII a partir da ideia de sociedade escravista e da escravidão moderna. O que diferencia, portanto, uma sociedade com escravos de uma sociedade escravista? De que forma açúcar e escravidão podem ser entendidos como fatores determinantes para a colonização do Brasil?



Análise do trecho: (15 minutos)




  • Realizar uma breve pesquisa sobre o conceito de “escravidão moderna” com os alunos

  • Identificar os países no mundo que mais importaram mão-de-obra escrava nos tempos modernos e perceber seus fatores em comum

  • Desenvolver o conceito de plantation

  • Identificar a experiência holandesa em Pernambuco e suas principais características

  • Identificar brevemente quem são as historiadoras do documentário e seus objetos de pesquisa atualmente



Timecode 02: (18:10 a 20:35)



Este trecho apresenta a noção de Engenho de açúcar e sua complexidade interna dividido em diferentes zonas de trabalho e produção. Não se trata apenas da produção de açúcar mas também de outros produtos que serão cruciais para o desenvolvimento do mercado interno e também de outras formas de controle sobre a população escrava que ali vive.



TEMA PARA O TRECHO



“O engenho de açúcar e seu funcionamento”



Análise do trecho: (10 minutos)



Pode ser um bom trecho para a discussão acerca do trabalho rural no período colonial e de que maneira o engenho funcionava enquanto espaço de sociabilidade tanto dos escravizados como também das elites e de suas conexões. A abordagem da Casa Grande em confluência com a Senzala pode ser uma interessante via de análise. A questão do alcoolismo é um ponto importante deste trecho: a cana-de-açúcar produz bebidas alcoólicas que servirão em grande medida como forma de controle e manipulação dos trabalhadores, gerando também um forte mercado interno de cachaça e suas variantes.




  • Compreender a variedade de atividades e agentes de trabalho de um engenho de açúcar

  • Perceber a atuação de diferentes formas de produção no interior do engenho que escapam da própria noção de plantation



Timecode 03: (21:25 a 24:10)



Neste trecho temos a questão envolvendo os impactos ambientais do açúcar no nordeste com o desmatamento das regiões litorâneas. Logo no início da fala da historiadora Ynaê Lopes, fica clara que a problemática da seca no nordeste é atravessada pela exploração de açúcar desenfreada na região ao longo de mais de 1 século. Também se discute o papel da escravidão como parte constitutiva deste período, sendo fator fundamental para a própria construção do Brasil tal como ele se apresenta atualmente.



TEMA PARA O TRECHO



"A herança açucareira no Brasil"



Análise do trecho: (10 minutos)



A açucarocracia na sua extrema produtividade exacerbada, especialmente no período de competitividade com o açúcar caribenho, temos impactos ambientais em larga escala. Com a crise açucareira a partir de finais do século XVII, o tráfico transatlântico se torna a principal atividade econômica do país, configurando o principal ciclo econômico de nossa História.




  • Pesquisar sobre os impactos ambientais na Mata Atlântica brasileira ao longo dos séculos

  • Identificar os países da América Central que foram colonizados por França, Holanda e Inglaterra que foram grandes produtores de açúcar nesse período

  • A partir da fala que encerra o filme, debater com a turma sobre os impactos do tráfico negreiro na História do Brasil e na atualidade.



AULA 03 (50 minutos)




  1. Análise de questões do ENEM sobre o tema abordado



Neste encontro os alunos deverão analisar questões do ENEM que abordam os temas discutidos no filme “Colônia – Trabalho e Açúcar”, utilizando os conhecimentos e debates das duas aulas anteriores como subsídio para resolver as questões e também analisando suas fontes.



A questões e os respectivos momentos do filme que se relacionam a cada uma, estão relacionadas ao fim desse plano de aula



CONCLUSÃO



A presente sequência didática tem como objetivo proporcionar aos estudantes uma compreensão crítica, contextualizada e interligada do Ciclo do Açúcar no Brasil Colonial, com ênfase no século XVII. Por meio de três encontros articulados, os alunos são levados a refletir sobre as dinâmicas históricas que estruturaram a economia colonial açucareira, ancorada no modelo escravista e na exploração das populações indígenas e africanas, inseridas em uma lógica de dominação imperial e mercantilista que envolvia Europa, África e América. 



Na primeira aula, a introdução conceitual é aprofundada com o uso do episódio "Colônia – Trabalho e Açúcar", da série Histórias da Gente Brasileira, que atua como recurso audiovisual de apoio à construção de sentidos. O documentário contribui de maneira significativa para a compreensão dos espaços sociais do engenho, das relações de poder e das resistências historicamente silenciadas, oferecendo uma linguagem sensível e fundamentada que amplia a dimensão humana e cultural do conteúdo abordado. Assim, a sequência favorece não apenas a apropriação de conteúdos históricos, mas também o desenvolvimento de competências analíticas, argumentativas e éticas, conforme proposto pela BNCC, contribuindo para uma educação que forma sujeitos críticos, reflexivos e socialmente comprometidos.



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